quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Opiniões - Parte 1



Mo'Nique, pela sua interpretação em "Preciosa - Uma História de Esperança" (2009), recebeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, tornando-a a quarta atriz negra a vencer o prêmio. Recebeu-o das mãos de Robin Williams, que venceu na categoria correspondente masculina em 1998 por "Gênio Indomável" (1997) e que estava em 2010 substituindo Heath Ledger, vencedor na categoria no ano anterior, mas que morreu subitamente no começo de 2009, antes mesmo de receber seu Oscar.

Não é segredo para ninguém que a Academia busca, exaustivamente, uma forma de ser diferente a cada ano. E também não é segredo para ninguém que, quase sempre, isso nunca é alcançado. Afinal, é impossível agradar a todo mundo ao mesmo tempo. Pois, sempre tem alguém que não aceita as inovações da Academia. Eu mesmo já salientei essa situação no Oscar de 1999 (tratado no mês de passado aqui no blog), mas é praticamente impossível falar da cerimônia sem tocar neste assunto. Ainda mais agora que a Academia parece estar realmente disposta a se reinventar. Entra ano e sai ano, a Academia tenta encontrar o apresentador perfeito, os artistas perfeitos e, claro, as indicações perfeitas. Pode ser estranho, mas a Academia vem tendo medo de errar: medo de ser mais uma decepção. Com isso, a Academia vai perdendo o seu privilégio. Será que o problema está na proporção que a cerimônia alcança? Será que ser a maior premiação do cinema mundial se tornou um fardo pesado demais? Se tornou, eu não sei, mas é sabido que as cerimônias não vêm sendo boas como antigamente.

Buscando a sonhada reinvenção a Academia se dá ao luxo de mudar as regras do jogo. E isso ficou claro na cerimônia de 2010. Pois foi neste ano que encontramos 10 filmes indicados à Melhor Filme. Sem motivo específico, a Academia tentou fazer do suspense a sua reinvenção. Afinal, quem ganharia a estatueta dentre tantos concorrentes? E sabendo disso, a Academia também fez o favor de surpreender em suas escolhas. Está certo que "Guerra ao Terror" (2008) era uma possibilidade, mas ninguém acreditava que, de fato, sairia como o grande vencedor da noite. Está certo também que tinha concorrentes risíveis, pois concorrer com "Um Sonho Possível" (2009)  na categoria principal só poderia ser piada. Entrando em contradição, os votantes resolveram esquecer-se do melhor filme da noite, "Avatar" (2009) e apostaram naquele que poderia (e foi!) a maior surpresa: "Guerra ao Terror". Nem mesmo a diretora do filme, Kathryn Bigelow, acreditou quando foi anunciada como vencedora na categoria como “Melhor Diretora”. Porém, os votantes ainda tinham mais surpresas pela frente. Afinal, vangloriar um filme como "Guerra ao Terror" não era o bastante.

A cerimônia tinha um embate risível também na categoria Melhor Atriz, pois nenhuma das atrizes tinha atuações boas o suficiente para justificar suas indicações. Carey Mulligan ("Educação", 2009) era a revelação do ano, mas tinha uma atuação simpática em um filme nada mais que também simpático; Helen Mirren ("A Última Estação", 2009) apenas fez de forma correta dentro da sua personagem; Gabourey Sidibe ("Preciosa", 2009) foi ajudada por uma personagem com uma carga dramática extrema; Meryl Streep ("Julie & Julia", 2009), assim como a Helen Mirren, apenas faz o correto (e, cá entre nós, tem uma atuação bastante superestimada, já que o filme em si, é bastante esquecível). E finalizando, o Oscar de Melhor Atriz acabou indo para Sandra Bullock que, pra mim, era a pior dentre as indicadas. Está certo que a sua atuação no filme não é ruim, mas ainda considero inferior às demais. Sem falar que o filme "Um Sonho Possível", é o mais insuportável dentre os indicados. O Oscar foi pelo quê? Pelo fato de ela, enfim, ter feito um drama? Por ter pintado o cabelo de loiro? A atuação é boa, mas não o suficiente para ser a ganhadora. Deste modo, Carey Mulligan poderia ter sido a vitoriosa já que a sua atuação era a mais agradável dentre todas.

Em contrapartida, a cerimônia ainda teve alguns acertos como premiar o ator Christoph Waltz (Melhor Ator Coadjuvante pelo filme "Bastardos Inglórios", 2009); O filme "Up – Altas Aventuras" (2009) na categoria Melhor Animação e até mesmo na categoria Melhor Atriz Coadjuvante já que, Mo'Nique (do filme "Preciosa") saiu como a grande vencedora. A premiação ainda teve um caso peculiar, pois, Jeff Bridges ganhou a sua estatueta de Melhor Ator pelo filme "Coração Louco" (2009) quando, na verdade, Colin Firth era a aposta da noite. Sem falar que, Colin, tinha uma atuação superior à Bridges. Sabendo do erro, a Academia resolveu premiá-lo no ano seguinte, sendo que, Bridges, também indicado, era o merecedor. Mesmo que tenha ficado “ela por elas”, isso só mostra a hipocrisia dos votantes ao escolher aleatoriamente por diversos fatores e não pelos motivos principais. Isso já é uma discussão velha, mas a Academia ainda não encontrou o seu caminho neste sentido. Enquanto estiver escolhendo seus ganhadores pelos fatores errados, muita gente que merecia o prêmio vai ficar sem esse reconhecimento. Que dirá o mestre Hitchcock e Glenn Close.

A cerimônia de 2010 foi repleta de erros e poucos acertos, mas, enquanto a Academia não enxergar a premiação como uma "mera" premiação, teremos que agüentar reinvenções de última hora e, principalmente, a premiação como um circo. Circo que, infelizmente, só os americanos apreciam. No fim, a premiação de 2010 foi a mais esquecível. Não digo que dentre todas, mas pelo menos atualmente...

por Alan Raspante

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