quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Tucker - Um Homem e Seu Sonho



TUCKER - UM HOMEM E SEU SONHO (Tucker: The Man and His Dream, 1988, 110 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Arnold Schulman e David Seidler
Elenco: Jeff Bridges, Joan Allen, Martin Landau, Frederic Forrest, Mako, Elias Koteas, Christian Slates, Nina Siemaszko, Anders Johnson, Corin Nermec.  

Curiosamente, “Tucker – Um Homem e Seu Sonho” (1988) é um dos filmes menos lembrados do cineasta americano Francis Ford Coppola. Entretanto, acredito ser a sua obra de caráter mais pessoal, ainda que possa parecer um tanto sistemática, fincada no lugar-comum e repleta de clichês. Digo isso, porque conhecendo a história desse diretor de talento inegável, um dos alicerces do movimento sessentista/setentista conhecido como New Hollywood, percebo certas semelhanças entre a personalidade megalomaníaca do empreendedor Preston Tucker (Jeff Bridges), protagonista do filme, com o não menos pretensioso e entusiasta Coppola neo-hollywoodiano.

Tanto um quanto o outro se achavam, de fato, reis do mundo e dotados de talento e o dom da ousadia, buscaram desenvolver projetos que alterariam o status quo de suas atividades. No filme, Tucker com seu carro revolucionário que colocaria as grandes montadoras como coisas do passado e na vida real, Coppola com seu cinema visionário, sepultando a forma antiga de se filmar e realizando produções de viés autoral, em formato independente dos grandes estúdios. Entretanto, ambos se viram presos aos esquemas e armadilhas das grandes corporações e podados ao máximo, limitaram-se a apenas instituir, sem nunca poder, de fato, executar o que idealizaram.

Em “Tucker – Um Homem e Seu Sonho”, Coppola cria uma obra que, em um primeiro momento, passa fácil como simples biografia. No entanto, repleta de analogias a sua própria história, pode ser vista facilmente como sua vingança pessoal e derradeira ao establishment hollywoodiano. Engraçado, que a mesma Hollywood que o diretor critica veladamente, indicou essa sua produção a três categorias do Oscar de 1989 (ator coadjuvante, direção de arte e figurino). No fundo, como sujeito astuto, sacana e dotado de um humor bastante peculiar, o hoje senhor Francis Ford Coppola deve ter se divertido um bocado com essas nomeações ao principal prêmio do cinema americano.

Considerações subliminares a parte, “Tucker – Um Homem e Seu Sonho” narra a história do já citado Preston Tucker, um empreendedor dos anos 40, sujeito visionário, que desenvolve um carro muito a frente de seu tempo. Para se ter uma noção, o protótipo criado por ele ainda é o mesmo que serve de base para a maioria dos carros atuais. Na trama, Tucker precisa provar para a justiça que seu carro não era uma fraude. Nisso, o roteiro escrito por Arnold Schulman e David Seidler destila uma verve anti-autoritária, ainda que moderada, com direito a discursos inflamados e cheios de sarcasmo do protagonista. O filme ainda conta com uma seqüência bem especial, mostrando a participação de Howard Hughes (Dean Stockwell) como benfeitor do projeto.

A produção conta com um elenco de primeira, encabeçado por um Jeff Bridges inspirado, apesar de parecer caricato em certos momentos, mas creio até que seja uma intenção do diretor. O veterano ator Martin Landau entrega uma interpretação simples, mas que detêm boas deixas, principalmente quando ele percebe que o projeto vai de mal a pior. A atriz Joan Allen, como a esposa destemida de Tucker e o ator Elias Koteas, interpretando o projetista dos carros Tucker, são coadjuvantes de peso que engrandecem as cenas, assim como o personagem de um jovem Christian Slater incensado pelo comportamento ufanista do pai. A direção de arte e os figurinos reconstituem com beleza e eficiência a cada vez mais distante década de 40.

Certamente, “Tucker – Um Homem e Seu Sonho” não é o melhor filme de Francis Ford Coppola e nem o mais empolgante ou emocionante. Entretanto, passa muito longe de ser um engodo. A obra detém uma narrativa agradável, sem grandes estripulias e que conduz a um epílogo dos mais climáticos, apesar de previsível. Aqui, pode-se até acusar de ser um Coppola com menos ousadia visual, aparentemente acomodado, mas no meu ponto de vista, é um filme incompreendido no tocante a suas aspirações artísticas. O texto e o subtexto imbuído de um bocado de crítica ao conservadorismo, ainda faz-se perceber que estamos diante de um filme realizado pelo outrora rebelde dos anos sessenta e setenta.

INDICAÇÕES:
1. Melhor Ator Coadjuvante: Martin Landau
2. Melhor Direção de Arte: Dean Tavoularis e Armin Ganz
3. Melhor Figurino: Milena Canonero

por Celo Silva

2 comentários:

Serginho Tavares disse...

preguiça de Jeff Bridges

Luís disse...

Realmente não consegui lidar bem com o filme. A meu ver, uma chatice sem fim.