domingo, 20 de janeiro de 2013

Um Peixe Chamado Wanda



UM PEIXE CHAMADO WANDA (A Fish Called Wanda, 1988, 108 min)
Produção: Estados Unidos | Reino Unido
Direção: Charles Crichton
Roteiro: John Cleese e Charles Crichton
Elenco: John Cleese, Kevin Kline, Jamie Lee Curtis, Michael Palin, Maria Aitken, Tom Georgeson.

“Um Peixe Chamado Wanda” (1988) sagrou-se como uma das grandes e gratas surpresas daquele ano. Despretensioso em seus meios e fins, a obra simplesmente deixou de calcular um ponto de chegada ou, até mesmo, de ver todos seus idealizadores sendo glorificados pelo feito. O buraco era mais embaixo: naquela região do estômago que costuma dar uma fisgada quando perdemos o ar de tanto rir.

Atenção para a receita. Escolha um diretor veterano, de preferência que ande meio esquecido pela Indústria do Cinema. Que tal Charles Crichton? A seguir, junte uma bela colher de sopa (daquelas bem fundas) do bom e amargo humor inglês. Pensou em Monty Phyton? Se pensou, que tal John Cleese e Michael Palin, líderes do extinto e hilário grupo? Após dar-lhes papel e caneta, siga somando alguns temperos frescos e com sabores inigualáveis. Quem sabe uma mocinha de filmes de terror? Talvez, Jamie Lee Curtis? Pra terminar, coloque todos os ingredientes em banho-maria e, ao final, acrescente uma joia bem brilhante, altamente performática: Kevin Kline.

Todo mundo já sabe que filme caro não é sinônimo de filme bom. Todo mundo também já está calejado de saber que elenco estelar não interfere na qualidade do produto final. Com “Um Peixe Chamado Wanda” não é diferente. Produção barata e encabeçada por um elenco pouco conhecido (talvez, por isso, não tenha recebido mais indicações nas categorias de atuação), está aí mais uma das provas de que nada é mais valioso que alguns bons atores, uma direção concisa e uma surpreendente ideia.

Na costumeira Inglaterra certinha, onde homens garbosos inclinam sua pasta de negócios pelas ruas e mulheres desfilam sua elegância refinada por lojas e restaurantes, um grupo de desmiolados resolve fazer fortuna da maneira mais fácil: roubando. A sexy e controladora Wanda, personagem de Jamie Lee Curtis, seu amante George (Tom Georgeson), seu segundo amante, o americano Otto (Kevin Kline) e Ken, o hilariante assaltante gago, interpretado por Michael Palin, resolvem assaltar uma joalheria e, após a bem-sucedida infração, levam milhões em diamantes. Algum tempo depois, George, líder do bando, é detido pela polícia, porém, para não sofrer nenhum tipo de trapaceio ele acaba por esconder os diamantes dos outros integrantes da “quadrilha”.

Detendo de humor ácido e muito inteligente, Crichton coloca seus pupilos pra jogar uma partida surreal de “polícia-ladrão”, abrem-se as portas para a manipulação, o exagero, o sarcasmo, o inusitado. A brincadeira melhora ainda mais quando entra em cena o advogado de George, Artie, papel de John Cleese, que supostamente está ali pra defender os interesses de seu cliente, mas acaba sendo sugado pelo jogo de intrigas que a trama se torna.

O estudo das personagens também é bastante possível quando partimos da perspectiva da análise que o filme visa fazer. Se de um lado temos Artie, um “gentleman” inglês, supervalorizado por uma trajetória, do outro temos o transloucado Otto, espelho da psicopatia, do exagero e da síndrome do “rei na barriga” tão difundidos na construção de personagens norte-americanos, principalmente quando visados à crítica. Em contrapartida, nos deparamos com Ken, gago, amante dos animais e apaixonado pelo seu aquário, em que o peixe mais bonito recebe o nome de Wanda, nota-se a leve ingenuidade (que não existe) do personagem e da metáfora que ousa dar nome ao filme.

Kevin Kline foi o único ator da produção a receber indicação ao Oscar e, por força de seu brilhante desempenho, acabou derrotando atores como Alec Guiness e Martin Landau, levando a estatueta para casa. O filme também foi reconhecido com as indicações de Melhor Direção e Melhor Roteiro Original. Por fim, vale lembrar que qualquer indicação ou uma possível vitória dentro de alguma categoria, seria, de fato, com muito merecimento. O roteiro é sagaz, criativo e enxuto em seu todo. Os atores desfilam em estado de graça diante dos olhos do espectador, confabulando para a existência de um dos melhores filmes daquele ano.

INDICAÇÕES (1 vitória):
1. Melhor Diretor: Charles Crichton
2. Melhor Ator Coadjuvante: Kevin Kline – venceu
3. Melhor Roteiro Original: Charles Crichton e John Cleese

por Gustavo Pavan

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