terça-feira, 16 de abril de 2013

Amor



Amor (Amour, 2012, 125 min)
Produção: Áustria | França
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert

Texto publicado originalmente no site Cinéfila por Natureza em 20 de fevereiro de 2013.

Na sua concepção literal, amor é a grande afeição que uma pessoa sente por outra. Porém, se fôssemos estudar o que significa esse conceito, chegaríamos à conclusão de que o amor não tem uma definição clara e certa. É um sentimento completamente abstrato. O amor não se mede e, muito menos, tem explicação. Ele está ali para ser sentido e vivido. E é justamente esse sentimento que permeia os 125 minutos de duração de “Amor” (2012), co-produção austríaca e francesa dirigida e escrita por Michael Haneke.

A história enfoca o relacionamento entre Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva). Ambos estão na faixa dos 80 anos. Ambos estão lidando com um outro tipo de sentimento: o do ocaso. Não do amor. Mas, sim, da vida em si. Isso está mais latente ainda quando, após uma complicação de uma cirurgia para desobstrução de uma artéria, algo completamente simples, Anne entra na estatística contrária, a dos 5% que têm uma complicação. Com o lado direito do corpo paralisado, ela fica totalmente dependente dos cuidados do marido. 

Um elemento fundamental a se prestar atenção no decorer de “Amor” é acompanhar o trabalho de direção feito por Michael Haneke. A sua câmera se dedica ao relato completo do cotidiano deste casal. São cenas longas, quase sempre com a câmera num único movimento, sem muitas variações de ângulos, com o objetivo de nos mostrar que o amor ali, ou a “obrigação” colateral do amor (cuidar de seu parceiro na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, todos os dias de sua vida) se tornou um peso. Para os dois. Ambos se tornam prisioneiros do apartamento onde vivem. Ambos pouco conversam sobre a situação precária de saúde de Anne. O dia a dia deles se resume a esperar o dia em que a situação vai se tornar tão insustentável que o fim será natural. 

É isso que faz de “Amor” um filme dilacerador, pois todos sonhamos em encontrar um amor com quem poderemos envelhecer juntos, mas a gente não pensa muito no fato de que envelhecer é difícil, para todo mundo. E ver quem a gente ama, ainda mais se for uma pessoa ativa e inteligente como Anne, sofrendo e se perdendo pouco a pouco dia após dia é muito complicado. Em consequência disso, “Amor” é um filme que dispensa julgamentos, até porque o sentimento que dá nome ao filme e os atos que ele nos concita a fazer também nunca suscitam o julgamento, visto que nunca que serão compreendidos.

Indicado a cinco Oscars 2013, “Amor” se torna um filme emocionante e poético não só por causa da força das imagens filmadas por Michael Haneke (a cena em que o pombo fica vagando pelo apartamento é uma das mais bonitas do ano, até agora), como também por causa de um final aberto, entregue à interpretação do público; mas, principalmente, por causa das atuações de Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva (a melhor dentre as indicadas ao Oscar 2013 de Melhor Atriz), duas lendas do cinema francês que, neste longa, entregam performances viscerais que nos relembram cena após cena das alegrias e das dores de se entregar ao amor, a um relacionamento duradouro, com alguém que a gente não imagina viver sem.

INDICAÇÕES (1 vitória):
1. Melhor Filme: Margaret Ménegoz, Michael Katz, Stefan Arndt e Veit Heiduschka
2. Melhor Filme em Língua Estrangeira: Áustria – venceu
3. Melhor Diretor: Michael Haneke
4. Melhor Atriz: Emmanuelle Riva
5. Melhor Roteiro Original: Michael Haneke

por Kamila Azevedo

Um comentário:

Alan Raspante disse...

A atuação de Emmanuelle Riva é MARAVILHOSA! Mas o filme, como um todo, é excelente!