segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O Escafarando e a Borboleta



O ESCAFANDRO E A BORBOLETA (Le Scaphandre et le Papillon, 2007, 112 min)
Produção: França | Reino Unido
Diretor: Julian Schnabel
Roteiro: Ron Harwood, baseado no livro de Jean-Dominique Bauby
Elenco: Mathieu Almaric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze, Anne Consigny, Max von Sidow, Niels Arestrup, Jean-Pierre Cassell, Marina Hands.

Síndrome do Encarceramento. É essa a designação que ouvimos do médico que apresenta ao francês Jean-Dominique Bauby sua atual condição. Na prática, significa que ele está preso a seu próprio corpo, sem poder senão mexer o olho esquerdo, através do qual enxergamos os primeiros 40 minutos do filme “O Escafandro e a Borboleta” (2007), baseado no livro homônimo de Bauby. A síndrome adveio de um acidente vascular-cerebral ocorrido em 8 de dezembro de 1995, quando Bauby tinha 43 anos, e, apesar de algumas melhoras, nunca pôde se livrar dela.

Antes mesmo de nos apresentar mais à doença, Julian Schnabel, diretor do filme, nos coloca na mesma situação de Bauby: ver e compreender, sem, no entanto, poder expressar-se. Não à toa, praticamente à primeira metade do filme nos mantêm encarcerados como o próprio personagem – durante esse tempo de exibição, vemo o mundo externo apresentado objetivamente através de uma lente (o olho esquerdo de Bauby), isto é, vemos tudo aqui que ele vê sem valores subjetivos: a cortina para a qual olha, as fotografias na parede, aqueles que o vêm visitar; já o mundo interno nos é apresentado na forma de memórias e metáforas, sendo que estas aludem retristamente às impressões do acamado que vive o paradoxo da imobilidade do corpo e da liberdade inteclectual.

Apesar do drama inerente à narrativa, o espectador não é cativado e comovido pela dor, mas por momentos intercalados de uma narrativa lúcida que não se torna maniqueísta. Assim, em vez de apenas acompanharmos o drama de um homem encerrado em si mesmo, com uma precária (porém eficaz) forma de comunicação, somos apresentados também às emoções daqueles que convivem com ele: sua fonoaudióloga Henriette, que se mostra contente consigo e com ele quando finalmente estabelecem um método de comunicação; Claude, a acompanhante solidária destinada a transcrever o livro ditado por Bauby; e, especialmente, Céline, esposa de Bauby que é obrigada a ditar a mensagem de seu ex-marido à amante dele, apesar do seu notável desconforto com a situação.

A história de Jean-Dominique Bauby, que faleceu dez dias após escrever seu livro, é uma narrativa imagética. Schnabel não poupou esforços ao nos conduzir pelas diversas formas de aprisionamento do personagem, a maioria delas associadas à água, seja submerso e paralisado, seja emerso, porém solitário no meio so oceano sobre um píer. Por outro lado, sua imaginação se apresenta num farfalhar constante, em um panapaná do intelecto. As quatro indicações do filme – que de certo modo remete a outro drama clássico, “Meu Pé Esquerdo” (1989), no qual uma paralisia afeta o protagonista deixando-lhe livre apenas o movimento do pé esquerdo – correspondem justamente às suas maiores qualidades.

INDICAÇÕES:
1. Melhor Diretor: Julian Schnabel
2. Melhor Roteiro Adaptado: Ron Harwood
3. Melhor Fotografia: Janusz Kaminski
4. Melhor Edição: Juliette Welfing

por Luís Adriano de Lima

2 comentários:

Kamila disse...

Este filme é maravilhoso e muito impactante. Uma obra sensível que é uma verdadeira lição de vida. Um trabalho maiúsculo de Julian Schnabel com uma atuação maravilhosa de Mathieu Amalric.

Débora disse...

Esse filme é tão lindo... Foi um dos responsáveis por me fazer apaixonar pelo cinema francês! Assisti esperando uma coisa e foi outra totalmente diferente: lição de vida mesmo, de como vemos o mundo.
Gostei muito do blog, vou acompanhar!
Se possível, dá uma passadinha no meu :)
backstagequeens.blogspot.com.br